Hoje, dou inicio a uma série de postagens com a colaboração de colegas que possuem projetos de pesquisa na área de hepatologia. A Dra. Priscila Pollo-Flores escreve um pequeno resumo de seu trabalho sobre o uso de sinvastatina na hipertensão portal, que recentemente foi publicado (online) na revista Digestive and Liver Diseases. Ao final do texto, você encontrará o link para a publicaçcão na íntegra e poderá conhecer um pouco mais sobre a Dra. Priscila Pollo-Flores na página de colaboradores.
Sinvastatina na Hipertensão Portal
Por Dra. Priscila Pollo-Flores
A cirrose hepática apresenta como principal complicação a hipertensão porta. Na fisiopatologia da hipertensão porta, a resistência vascular intra-hepática aumentada exerce papel central. Existem dois componentes sendo o estático, determinado pela distorção do parênquima hepático causada pelos nódulos de regeneração, e o dinâmico, responsável por 30% do aumento da resistência vascular intra-hepática, relacionado à redução da disponibilidade de óxido nítrico intra-hepático. O aumento do tônus vascular por ação, sobretudo da endotelina 1, pode ser compensado pelo aumento de vasodilatadores. No entanto, o paciente cirrótico apresenta circulação sistêmica hiperdinâmica, com baixa resistência vascular periférica e vasodilatação. Desta forma, qualquer vasodilatador pode prejudicar e causar hipotensão e suas consequentes complicações no cirrótico como baixa perfusão renal.
As estatinas apresentam características de atuarem em locais de disfunção endotelial e, assim, seletivamente têm como alvo o meio intra-hepático aumentando o óxido nítrico através da fosforilação pós-translacional da proteína AKT na óxido nítrico sintase endotelial. Além disso, podem agir em outras vias como o aumento do fator nuclear translacional (Krupper-like 2), na sinalização Rho/RhoA quinase. Estudo realizado pelo grupo de Barcelona (Abraldes et al, 2009) demonstrou a redução da medida do GPVH após uso de 1 mês da sinvastatina.
No intuito de estudar por um tempo mais prolongado e avaliar as principais colaterais na hipertensão porta (varizes esofagianas), conduzimos um estudo clínico, randomizado, triplo cego e placebo controlado por 3 meses na Universidade Federal do Rio de janeiro (Hospital Clementino Fraga Filho), utilizando a sinvastatina na dose de 40 mg/dia e aferindo a resposta através da medida do gradiente de pressão venosa hepática (GPVH) e da ecoendoscopia com fluxo de ázigos. A medida do GPVH permite detectar e avaliar gravidade de hipertensão porta. A medida do fluxo de ázigos é uma medida indireta que permite inferir o fluxo sanguíneo nas varizes esofagianas, colaterais portossistêmcias mais temidas pelo risco de hemorragia digestiva alta. Em nosso estudo, 24 pacientes completaram o protocolo e observamos redução de forma significativa do GPVH em 55% dos pacientes. Além do mais, a presença de varizes de esôfago de alto risco e história de hemorragia digestiva alta prévia se correlacionaram com maior chance de resposta ao uso da sinvastatina. Nenhum paciente apresentou efeitos colaterais, como elevação de enzimas hepáticas ou piora da função hepática, demonstrando que o seu uso foi seguro na população do estudo. Finalmente, detectamos melhora significativa na classificação de Child-Pugh.
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