quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Hipertensão Portal

Por Gilberto Silva-Junior

Aqui abordo alguns pontos básicos da hipertensão portal, focando na hipertensão portal sinusoidal causada pela cirrose hepática. Ao final do texto, a bibliografia com os links para as publicações.




A síndrome de hipertensão portal (HP) é definida como o aumento patológico da pressão dentro do sistema venoso portal. É classificada como hipertensão portal pré-hepática, intra-hepática e pós-hepática. A HP intra-hepática é subclassificada em pré-sinusoidal, sinusoidal ou pós-sinusoidal. Sua principal causa é a cirrose hepática (hipertensão portal sinusoidal). O paciente pode apresentar uma fase pré-clínica, assintomática, antes de desenvolver sinais e sintomas clínicos característicos desta síndrome.

Atualmente, a medida do gradiente de pressão venosa hepática (GPVH), realizado através do cateterismo das veias supra-hepáticas, é o método de eleição para o diagnóstico da HP, além de possuir valor prognóstico. Por esse método minimamente invasivo, GPVH menor que 5mmHg é considerado normal, >5mmHg é diagnóstico de hipertensão portal sinusoidal  e >10mmHg é denominado hipertensão portal sinusoidal clinicamente significativa. Pacientes com hipertensão portal pré-sinusoidal ou pós-sinusoidal costumam apresentar GPVH normal ou pouco elevado. A expressão "clinicamente significativa" é utilizada para definir o grupo de pacientes com maior risco de desenvolver complicações derivadas da HP, como, principalmente, encefalopatia hepática, desenvolvimento e rotura de varizes esófago-gástricas, ascite e carcinoma hepatocelular. Alterações laboratoriais, radiológicas, endoscópicas e elastográficas podem sugerir a presença de HP, como por exemplo níveis de plaquetas baixas, tamanho do baço aumentado e/ou presença de varizes esófago-gástricas.

O tratamento da HP baseia-se na prevenção e no tratamento das complicações. Dependendo de cada caso, a abordagem pode ser medicamentosa (como o uso de beta-bloqueadores não seletivos), endoscópica local (uso de bandas elásticas ou esclerosantes em varizes esófago-gástricas), minimamente invasiva (como a colocação de uma prótese que deriva o fluxo sanguíneo portal para a circulação sistêmica), cirúrgica (desvacularização, derivações porto-sistêmicas e etc) e, finalmente,  o transplante hepático. É importante ressaltar que o tratamento da causa da doença hepática tem papel fundamental no tratamento da HP. Dessa forma, pacientes com cirrose alcoólica devem ser estimulados a deixarem a bebida alcoólica, os cirróticos por vírus da hepatite C devem ser tratados, bem como aqueles com vírus da hepatite B e etc.

O prognóstico se relaciona com o grau de HP e a situação clínica de cada paciente. Em pacientes com cirrose hepática, GPVH >10mmHg está relacionado a um maior risco de complicações pós ressecções de carcinoma hepatocelular, GPVH >12mmHg aumenta o risco de hemorragia digestiva relacionada a HP, GPVH >16mmHg com redução da sobrevida e GPVH >22mmHg com maior mortalidade nos pacientes com hepatite alcoólica aguda grave. A redução do GPVH para níveis menores que 12mmHg  reduz o risco de complicações.

Nas futuras postagens, abordarei cada ponto da hipertensão portal de forma mais detalhada.

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